top of page

Um dia de princesa

Eu tenho uma caixinha de exercícios de criatividade que ela é composta por várias cartas com tarefas que nos forçam a pensar fora da "casinha". Eu prezo mais as que pedem para que eu desenvolva algum tipo de estória a partir de algo aleatório. No caso de hoje eu deveria escrever uma estória juntando as três primeiras fotos que apareceram pra mim quando eu abri o instagram. No caso foram as seguintes: praia, branca de neve, e uma blogueira sueca fazendo um picnic que foi invadido por duas vacas. This shall be good.


O sol estava nascendo e com ele violinos começaram a soar. Depois de alguns minutos Angelica se vira na cama e desliga seu alarme que tocava um Allegro de Bach. No silêncio ela levantou os braços e os esticou o máximo que pôde, tentando alcançar o teto. Isso fez com que alguns de seus ossos se estalassem, como se ela estivesse encaixando tudo de volta ao seu devido lugar. Ela foi em direção a janela e ao abri-la sentiu o vento frio entrar em seu quarto que agora quase parecia uma sauna em comparação a temperatura externa. “Nada demais” ela pensou. Angelica amava o frio, principalmente quando vinha acompanhado de sol e um céu sem nuvens. Ela começou a arrumar seu quarto, fez a cama, afofou os travesseiros, e posicionou a ultima almofada no centro perfeito da cama. Quando ela olhou para a almofada ela franziu o cenho ao notar que ela estava sem imagem alguma, sem estampa, só o tecido de algodão cru sem cor. Ela pegou a almofada, e ficou algum tempo olhando fixamente para ver se algo mudava. Nada. Ela pegou seu celular e procurou por todo o seu rolo de câmera por alguma foto antiga de seu quarto quando o dedo nervoso e frenético arrastando a tela finalmente parou. “ AHA!” Ela exclamou. Ela clicou e abriu uma foto não tão antiga de seu quarto, deu zoom com os dedos para perceber que a sua almofada que era estampada com o tema da Branca de Neve sendo beijada pelo príncipe, agora estava sem nenhuma informação. Nada. Niente. Angelica, ainda perplexa, lentamente posicionou a almofada novamente no centro da cama entre os travesseiros e foi lavar seu rosto. Ela se inclinou para molhar o rosto com água gélida, que fez seus braços arrepiarem. Quando ela levantou seu olhar para se ver no espelho sua visão ainda estava embaçada por conta das gotas acumuladas nos cílios. Ela estendeu o braço e apalpou a parede até encontrar a toalha, que foi direto ao encontro a sua face. Com muito medo e com o coração pulsando rápido, ela abaixou lentamente a toalha, e mesmo assim manteve os olhos fechados. Alguns segundos depois ela finalmente abriu os olhos para se deparar com o impossível. Ela era a Branca de Neve. Ela deu um grito estrondoso e saiu correndo do banheiro para se olhar em um espelho maior que ficava na porta do armário de seu quarto apenas para confirmar o que ela já havia visto. Seus cabelos que outrora eram loiros platinados agora estavam escuros como a noite, sua pele de bronze saudável agora era pálida como a neve, e seus olhos que eram azuis agora eram castanhos. Seus olhos foram em direção ao teto e assim como uma princesa ela caiu graciosamente desacordada no chão de seu quarto.

Não se sabe quanto tempo depois, ela acordou com a voz de seu namorado.

“Angelica! Angelica, abre a porta por favor! Estou aqui tem uns vinte minutos!”

Ela vira de lado e se apoia sobre seus braços para levantar, e ao olhar no espelho vê que ainda é Branca de Neve. “Meu Deus, meu Deus, meu Deus o que eu faço?” Ela pensou enquanto chacoalhava as mãos em um movimento nervoso.

“Angelica! Se você não abrir eu vou embora!” Gritou Nick do lado de fora.

Ela correu em direção a porta pensando “se for algo da minha cabeça ele não vai perceber…certo?” E ao abrir a porta ela deu um outro grito estrondoso. “AHHHHH” e Nick o retribuiu “AHHHHHH”. Ele era o próprio príncipe da Branca de Neve. Eles tinham se transformado na fiel estampa da almofada de Angelica.

“Meu Deus Nick, o que está acontecendo?” Angelica perguntou aos prantos e indo em direção ao abraço de seu namorado.

“Fica calma, vamos sentar e lembrar juntos de tudo que a gente fez ontem…” Falou isso e fechou a porta.

Eles se sentaram no sofá, Angelica encolhida nos braços de Nick. Ele a segurou pelos ombros e a afastou de maneira que ele pudesse vê-la. Ele não acreditava em seus próprios olhos, nem ela. Ele começou a falar naturalmente, como se nada estivesse errado:

“Então, ontem nós voltamos da praia de manhã, certo?”

“Aham”

“Depois, fomos ao supermercado comprar tudo que íamos precisar pro picnic no fim da tarde, certo?”

“Aham” Angelica concordava com a cabeça.

“No picnic nós só bebemos vinho, certo?”

“Certo”

“A gente teve que ir embora porque aquelas vacas chegaram pra comer grama do nosso lado, foi isso?”

“Antes fosse…Uma delas espirrou na nossa cara, lembra?” Angelica deu um leve sorriso e esqueceu por um breve momento que ela tinha se transfigurado.

“Geli, e se, a gente fizer tudo o que a gente fez ontem hoje de novo?”

Angelica pensou, e se viu sem alternativas. Se refazer o dia anterior igualzinho não fosse reverter a situação pelo menos iria dar-lhes uma luz.

“Ok… pode ser. Começamos pela praia?”


Eles foram para a praia, com as mesmas roupas que tinham usado no dia anterior, sujas de areia e água de mar. Cataram conchas, molharam os pés, e jogaram água um no outro. De longe parecia veramente um filme de romance. Algumas poucas pessoas que estavam alí ficaram olhando, e uma criança chegou até a apontar o dedo pra eles mostrando pros pais.

“Chega, é inútil” Falou Angelica fechando a cara. “Vamos embora…” agachou, pegou seus sapatos, e saiu andando enfurecida. Nick foi correndo atrás dela. A próxima parada era passar em casa e depois no supermercado. Ao chegar em casa eles deixaram as conchas no mesmo local onde no dia anterior tinham deixado. Angelica entrou no quarto e foi correndo olhar a almofada, e sem pensar abraçou a almofada. Assim que ela sentiu seu rosto tocar o tecido ela começou a berrar desesperadamente:

“SOCORRO NICK! ME AJUDA AQ…” Nick veio correndo e viu a cena mais bizarra da vida, sua namorada sendo sugada e imprimida na almofada. Ele correu pra tentar puxar sua mão mas ele mesmo acabou sendo puxado e assim que sua mão tocou o tecido ele também foi sugado aos berros. Os berros cessaram de repente e um silêncio tomou conta do quarto.

Algumas horas depois a porta faz um barulho e uma mulher loira platinada entra na casa. Deixa suas chaves na mesinha perto da porta em uma bandeja que fica ao lago do aquário com as conchas, tira seu casado pesado e o pendura no gancho da parede, e tira os sapatos.

“Finalmente em casa…” Fala Angelica. Ela vai para o quarto onde encontra sua cama bagunçada e repara algo estranho. Se aproximando lentamente ela pega a almofada e olha com espanto a imagem congelada de Branca de Neve e seu príncipe gritando em desespero, mais parecendo “o grito” de Munch.

“Meu Deus, já passou da hora de eu doar isso aqui…” e jogou a almofada no chão. Em seguida ela se sentou na cama, tirou suas meias, olhou pra mesinha de cabeceira onde viu seu celular e falou “Aha! Achei você!".



Posts recentes

Ver tudo

2 Comments


Laura Valadao
Laura Valadao
Jul 22, 2020

Uhuls! Foi bem desafiador, pensei que não ia sair 😅

Like

mirelapcorrea
Jul 22, 2020

ficou demais!!! Amei!!!

Like

©2020 por Laura Valadao. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page