Não é sobre malas
- Laura Valadao
- 8 de out. de 2024
- 2 min de leitura
Esses dias eu estava no aeroporto, fazendo uma atividade que eu gosto muito, que é algo imprescindível para atores: observar pessoas. É através da observação que atores podem criar um ‘database' para futuros papéis, ou até mesmo personagens que querem criar ou aperfeiçoar.
O jeito que uma adolescente ,que está seguindo para uma viagem de lazer, toma um café é completamente diferente do jeito que uma mulher que está no telefone, enquanto paga, e resolve problemas de sua empresa, é completamente diferente.
Os passos largos de alguém que tem tempo, os olhos perdidos de quem está voando pela primeira vez. Eu realmente amo aeroportos.
Nessa onda de observação meus olhos caíram em um objeto que todos usamos porém esse me chamou muita atenção. Era uma mala de mão, com rodinhas, e seu material era completamente transparente. Meu primeiro pensamento foi: que loucura, como a pessoa pode simplesmente deixar que todo mundo veja o que tem dentro de sua mala?
Fiquei alguns minutos ponderando sobre e tive um outro pensamento: pessoas poderiam ser assim também, transparentes. Poderiam andar por ai sendo transparente com tudo que tem dentro delas, as angústias, felicidades, intenções. Como seria mais fácil conseguir ver do que é feito uma pessoa ao apertar sua mão e observar suas entranhas. Sinto que o tempo todo estamos tentando ver o que tem na ‘mala’ de pessoas que convivemos ha tanto tempo, sem saber se existe ali um compartimento cheio de mágoas e ressentimentos.
Eu me perguntei, então, se eu mesma estava sendo corajosa em ser transparente com meus valores, minhas intenções e minhas mágoas. O problema é que nós fomos ensinados a colocar uma mala dentro da outra mala e aparentar o mais estruturada possível, com a rodinha funcionando perfeitamente, e somente aqueles que nos conhecem mesmo vão descobrir a senha que abre. E mesmo assim, ainda existe um medo, o medo de que esse conteúdo não agrade, ou seja muito pesado para entrar no voo.
Enfim, fica a reflexão sobre a coragem de ser vulnerável e transparente, que inclusive foi o primeiro livro que li esse ano, e que melhorou muito o jeito que converso e me comunico com pessoas, principalmente pessoas importantes pra mim.